segunda-feira, 5 de julho de 2010

Décimo Sétimo Dia de Viagem

Saímos na segunda de manhã, após o café, da pousada Axé em direção ao Espírito Santo. Começavam as chuvas por lá. Seguimos para Alcobaça na esperança do tempo estar bom e conseguirmos um barco para ir até a Ilha de Abrolhos. Para a nossa tristeza, a previsão de tempo não era boa para os próximos dias - previsão esta checada no site do Inpe.
Resolvemos seguir em direção a Itaúnas, super preocupados com o horário do jogo do Brasil. Entramos numa estrada de chão que não acabava nunca com eucalíptos para todos os lados. Chegou um momento que tinham três caminhos e nenhuma indicação. Seguimos por um, no instinto. Havia umas setas vermelhas nos eucaliptos indicando um caminho, porém sem nenhuma legenda. Depois de um tempo, perdidos e rodando por caminhos de eucaliptos nos deparamos com a seguinte placa: "Ai, playboy, tá perdido? Vai no Celsão!" e isso se repetia mandando a pessoa, no caso nós, ir até o tal do Celsão. Havia também várias "você está sendo filmado" com olhos pintados, no meio do nada. E provocações do tipo "aqui todo mundo se perde", "ES um lugar maluco", "lugar no meio do nada". Famintos e perdidos, chegamos no tal Celsão pela ajuda das placas. Junior ia colher informações para um boneco em tamanho natural de homem sentado num banco. Mais uma vez enganados pelo Celsão, a única coisa que poderíamos fazer é assistir ao jogo naquele local (com uma TV horrível que distorcia os jogadores, Ana até falou do Julio César "que isso?! um anão?!"). E, ainda, comer ali mesmo. Celsão não estava lá e o funcionário nos contou sua história: ele também se perdeu, e chegando naquele local, comprou o sítio e ali estabeleceu pousada-restaurante. Disse que tem gente que chega furiosa ali, também não é para menos! Almoçamos mal e com grande fartura (comida requentada) acompanhados de patos, gansos, galo, galinhas dangola, papagaio e dois cachorros bravos. No meio do jogo, o galo começou a carcarejar muito em cima da cerca, nisso vieram as galinhas dangola intimidá-lo, elas começaram a correr atrás dele e ele fugia apavorado. Situação inusitada! Na hora de pagar, fomos assaltados: 18 reais por pessoa por uma comida ruim e 3 reais cada latinha (seja de cerveja ou de refri). Saímos inconformados. Para confirmar nossa revolta, vimos outra placa do Celsão "pousada ruim é no Celsão" e a outra, seguinte:
Esta praia do Riacho Doce era perto do Celsão, e diz ser a segunda praia deserta mais bonita do país (por qual fonte confiável não sabemos). Dá para ir a pé até ela de Itaunas, porem são 10 km de ida e 10 de volta.
Continuamos a viagem, ouvindo o começo do segundo tempo no rádio. O narrador era muito divertido. Não vimos o gol do Robinho, ouvimos. Paramos na entrada de Itaúnas, onde tinha uma TV e se concentrava uma galera na frente, para ver o resto do jogo. Fomos atrás de pousada após o final. Aí vem o drama: não achávamos pousada barata. Itaúnas, por ter fama turística e ser a capital do forró, tem preços caros e tabelados (todas as pousadas boas eram 100 reais o casal). Junior estressado com a cidade tocou o carro para Conceição da Barra, a 30 km dali. Ficamos na pousada Solar das Flores. A dona é muito simpática e receptiva. Ficamos por 75 os três. Saímos para comer uma pizza. Primeiramente sentamos num lugar de lanches que era uma facada. Junior seu a migué e saímos. Fomos comer pizza no Kakito's, pizza horrorosa, parecia Sadia. Enfim, voltamos para casa um pouco desiludidos e dormimos (e aí vem a surpresa maior).
caminho: eucaliptos
única foto em Conceição da Barra HAHA

Décimo Sexto Dia de Viagem

Neste dia, morgamos o dia inteiro na praia, esquecemos da vida e aproveitamos o mar. Comemos muito bolinho de aipim (parecido com o batata frango do Marcelino). Junior queria abrir um concorrente do Marcelino com o aipim-camarão. Comeu muitos, muitos, muitos.
De noite, fomos para a casa de Nadir e Terry, junto de sua filha Nina, e Junior faz um strogonoff de camarão que estava uma delícia. Conversamos, trocamos experiências e seguimos para a Pousada dormir. 
praia na maré baixa: barcos na areia

Décimo Quinto Dia de Viagem

Acordamos cedo para conhecer as outras praias próximas da cidade. Seguimos uma estrada de terra beirando a praia, que logo adentrou pelo Parque Nacional do Descobrimento. Ficamos um pouco perdidos pela falta de sinalização. Perguntamos para um homem, ele nos informou que era para virar na placa que dizia Bar Restaurante Marina da Glória. Chegamos, então, à praia Barra do Sahy.
Barra do Sahy: o tal restaurante camping da Glória (que devia se chamar o camping do Proibido, porque tudo era proibido, churrasco, isopor, moto) estava fechado. Então, só tínhamos nós e a praia. Logo, tem um rio muito bonito que mais para frente desemboca no mar. Paramos ali, perto do rio. Água do mar muito azul e bem mais agitada e fria que a Praia da Paixão. Tem falésias em alguns pontos de sua extensão, em que na maré alta, não dá para passar ali a pé. As falésias são muito bonitas, com seus coqueiros no alto e uma terra rosada. Aproveitamos o dia na praia, nadando, lendo, tomando sol e andando. Fizemos nosso almoço: macarrão spaghetti com molho de tomate, atum e castanha de caju (improvisação total) no fogareiro. Para tomar, Mari pegou dois cocos típicos de um coqueiro mais baixo. Tomamos água de coco natural e fomos lavar a louça no rio com sabão de coco, tipo índios.
Voltamos na hora certa pois começou um chuvisco. Paramos no Régi para tomar cerveja e comer bolinho de aipim. Fomos para a pousada.
Mais de noite, tentamos achar algum restaurante aberto, mas não tinha nada às 22:00. Tomamos sopa Vono no quarto e dormimos.
praia
"vamos ficar por aqui"
mangue no rio
rio-mar
falésia ao longe
ana inshalá
"sirizinho bichinho típico da região" (Ana)
Junior cozinhando (não o siri)

Décimo Quarto Dia de Viagem

Cumuruxatiba: (cumuxa - maré baixa e tiba - maré alta, mar batendo nas falésias) cidade praiana no sul da Bahia, bem tranquila nesta época de junho. Tem cerca de 4 mil habitantes. Vive do turismo e da pesca. Cidade muito bonitinha, que beira a praia da Paixão. Lembra litoral norte de São Paulo, tipo Juquehy. 
Junior acordou 5 horas da manhã e saiu para caminhar até a praia do Arnaldo e viu o nascer do sol, muito bonito. Mari e Ana, mais preguiçosas, foram acordadas 8 da manhã para tomar café da manhã na pousada Axé. Café da manhã bem caprichado e tudo fresquinho. Mari e Ana saíram para caminhar na praia, enquanto Junior lia livro. Voltamos a tempo de ver o jogo do Brasil contra Portugal, jogo chato. De tarde, Mari e Ana foram comprar biquinis. Voltamos e fomos dar um mergulho no mar. Mar tranquilo, sem muitas ondas, com muitos barcos. A praia tem muitas algas. Existe um pier destruído no mar. O pier de Cumuruxatiba se incorporou à paisagem do lugar, construído nos anos 50 por uma empresa alemã com objetivo de facilitar o acesso de navios à praia para retirada da areia monazítica, que é medicinal. É o segundo maior píer do mundo, com mais de 600 m de extensão. Vários turistas vão para a praia se enlamear desta areia.
Não colocamos no post anterior, mas jantamos no lanche do 14, trailer de lanches, o unico aberto àquela hora.
Neste dia, fomos no restaurante Ema e comemos três PFs de peixe Sarda, arroz, feijão e salada. Apesar das moscas atrapalhando-nos, a comida estava boa. A indicação foi de Nadir e Terry, casal que fizemos amizade na barraca do Régi. Barraca do Régi: melhor barraca em frente ao mar para tomar uma cerveja e comer bolinhos de aipim, especialidade da casa. Muito bom! Recomendamos lá, até porque tem cadeiras de madeira para se sentar em frente ao mar. Nadir, amiga de Regi, mineira de Teophilo Ottoni (sim, o mesmo do Serro) passou grande parte da vida na Inglaterra. Lá conheceu Terry seu marido, e vieram morar em Cumurux... Terry pouco fala português e Mari arriscou trocar umas palavras com ele. Eles tem dois cachorros ótimos: Bruce, rotweiller nenê grandão e Toby, cocker pretinho sujo de areia. Os cachorros só entendem em inglês, haha.
De noite, com preguiça de sair, tomamos chocolate quente feito no fogareiro com bolachas. Dormimos.
Junior lendo na rede da pousada
um pedaço de praia
píer
Onde esta Ana?
 anoitecer

terça-feira, 29 de junho de 2010

Décimo Terceiro Dia de Viagem

Acordamos em Jequié, passamos no banco, farmácia, etc, para aproveitar a cidade grande. Frustração: era feriado de São João, e quase nada tava aberto. Seguimos viagem para Cumuruxatiba. Na estrada de Ipiaú para Ubaitaba encontramos vários lixões a céu aberto, em meio a Zona da Mata, na beira da estrada. É a imagem do descaso do poder público com a população. Um bando de urubus, lixo queimando, um horror. Em um dos lixões, tinha um morador da região com seu filho que vinha correndo pelo lixão, e Ana ao tirar a foto-denúncia, escandalizada e revoltada gritou: NÓS VAMOS DENUNCIAR ISSO AÍ! E o pacato cidadão concordou e disse "é bom mesmo!!". Temos aqui as fotos da nossa fotógrafa amadora:

Acessamos a rodovia BR-101 sentido ao sul e após 30 km uma parada estratégica para abastecimento no Posto da Lorena - prazer em te servir. Junior foi ao banheiro. Enquanto isso Ana, depois do banheiro, entrou no boteco do posto e avistou um coco com um canudo em cima do balcão. Apoderou-se do coco e tentou tomar a água de coco com o porém de que não havia nem mais um gole, xingando Junior em pensamento "ai, ele nunca deixa nada, sempre toma e come tudo". Então... Junior adentra o buteco e pede um coco para tomar. Ana olhou para aquilo inconformada e resolveu confimar o ato, perguntando a Junior "você vai tomar agua de coco só agora?" Ele respondeu que sim. Eis que entra Mari no boteco e se dirige ao antigo coco que ainda estava no balcão, quando Junior disse "não Mari! esse coco é do caminhoeiro!" Mari pediu um coco e olhou para sua mãe, que estava com uma cara de nojo, e perguntou "que foi, mãe?". Ela respondeu que nada, porém Mari resolveu olhar o local tentando ver o que havia de tão nojento ali. Ao entrarmos todos no carro, depois de ter tomado o coco, Ana estava desinfetando a boca com Álcool em gel de erva doce e gritava "AAI! AAAI!". O alcool ardia a boca dela. Junior perguntou o que era aquilo e ela, com muita vergonha, confessou que tomou o coco do outro por engano e estava morrendo de nojo. HAHAHA

O resto do dia ficamos enchendo o saco de Ana, ainda mais quando ela, horas depois, com frio pediu à Mari: "Mari, pega aí atrás o meu MOLETINHO." Junior e Mari assustados perguntaram o que é isso. Ana explicou entre risos que era um moletom fininho. Até hoje zuamos o moletinho.
Paramos no Fazendo Fazenda na cidade de Camacan para almoçar, muito gostoso, tranquilo, limpo e ecológico. Tomamos sucos típicos, Mari de Açai, Ana de Cupuaçu e Junior de Jenipapo - que era horrível. Ana e Mari comeram cuzcuuz baiano (tipo farofinha) com ovo mexido, e junior pão com linguiça, ovo e queijo.
Ana e Junior pegos de surpresa pela câmera (mentira)

Depois de 150 km de asfalto encaramos à noite mais 32 km de estrada de chão até chegar em Cumuruxatiba, cidade indicada pelo Cesão. Na primeira pousada que paramos fechamos negócio, a Pousada Axé, mas a cidade é cheia de pousadinhas até um hotel mais luxuoso. No próximo post, falaremos melhor desta cidade.
Total de kms rodados no dia: cerca de 500 km.
Dormimos para aproveitar sossego no dia seguinte.


segunda-feira, 28 de junho de 2010

Décimo Segundo de Viagem - noite

Saímos da Chapada às 14 horas em direção ao litoral sul da Bahia. Na intenção de cortar caminhos para não passar em Feira de Santana, pegamos uma estrada de Iaçu até Milagres. Nos demos mal. A estrada, que no guia rodoviário constava como asfaltada, era um asfalto terrível, que se fosse de terra seria melhor. Para salvar a noite, vimos rapidamente uma raposa e um veado campeiro atravessando a estrada. Finalmente, com muito esforço e com atrasado de 2 horas, chegamos à BR-116. Seguimos em direção ao Sul, passando pelo curioso Povoado do km 100. Sim, o nome da cidade é este: Povoado do km 100. Ana elaborou uma teoria para este nome, já que achávamos um absurdo esta falta de criatividade, dizendo que todo mundo falava “ah, vô lá na tia que mora ali no povoado do km 100” e foi ficando, até virar domínio popular. Paramos em Itiruçu em um posto de gasolina, tomamos café e comemos um horrível salgado. Para variar, a festa de São João estava rolando a mil, e não tinha vagas no hotel da cidade. Seguindo caminho, fomos atentos no rádio, escutando as notícias regionais sobre as festas São João, para escolher a que tinha menos badalação. Passamos longe de Jaguaquara, que rolava DUAS grandes festas na cidade, uma no entroncamento e outra no centro, em um São João animadíssimo. Escolhemos Jequié, a maior cidade do trajeto, porém não tão badalada.
Jequié: chegamos às 22 horas. Para variar, procuramos vagas nos hotéis, e só achamos no Hotel Rio Branco (segundo o slogan: a estrela aqui é você). Preço razoável, quarto até que legal, chuveiros por energia solar (este banho e o do Camping tão ganhando de melhores até agora). Enquanto Junior procurava hotel, chegou um velhinho que limpava os vidros dos carros estacionados conversar com Mari e Ana. Ele disse “ vai ter Roberto Gil ali embaixo”. Ana perguntou “quem? Roberto Gil?” Ele respondeu “é, o Ministro...” A gente não acreditou. Depois, olhando a programação ficamos sabendo que Gilberto Gil vai tocar no sábado. Saímos para, maldizendo nossa boca, o São João procurar comida. Era uma festa na praça, até que tranquila, com um show de forró. Junior estava indignado porque na Bahia só tem Skol e Nova Schin, e ele gosta de no mínimo uma Antartica para cima. Está se contentando com a Skol, para não ficar de bico seco. Ana e Mari comeram crepe suiço, Junior panqueca, crepe e acarajé. Estavamos sentados na mesma mesa que um senhor e um caminhoneiro, por falta de mesas. Ana, achando que eram simpáticos, puxou papo. O senhor, que parecia o Zeca Diabo misturado com o Sinhosinho Mauta (baixinho, gordinho, feio, chapéu de boiadeiro, óculos com armação dourada, pulseira grossa de ouro, relógio de ouro, colar de ouro, anel de ouro... enfim Sinhosinho total) começou a falar sem parar. Falou da “onça” (sua ex mulher), dos políticos da família e da matança (“se mexer com primo meu, eu mesmo vo lá e mato”). O caminhoneiro, quando consultado sobre caminhos, apenas disse “eu conheço esse Brasilzão todo”. Saímos quando pudemos e encerramos a noite com três churros. Dormimos.

 Jequié

Décimo Segundo Dia de Viagem - Adeus, Chapada

Acordamos às 7 horas da manhã, tomamos o último café-da-manhã na pousada Recanto da Chapada. Antes de pegarmos estrada passamos pelo cemitério bizantino Santa Izabel. Este cemitério fica sobre as pedras e segundo Tony só existem dois assim no mundo. O mais bonito é à noite, quando ilumina-se as tumbas brancas que refletem a luz. Foi cenário de Abril Despedaçado. Seguimos viagem. Não paramos em Igatu, cidade turística toda de pedra que foi cenário do filme Besouro. Paramos só em Andaraí e compramos pilhas, tomamos água de coco e Junior tomou sorvete de tapioca. Seguimos para Lençóis – capital turística da Chapada.
Lençóis: cidade em estilo colonial preservada em que se concentra a maior estrutura turística, incluindo hotelaria, restaurantes e ecoturismo. Mesmo assim, não encontramos pousadas acessíveis, até porque a maioria estava lotada por causa do São João, e as que tinham vagas, cobravam preços absurdos. Tomamos cerveja e almoçamos. Resolvemos ficar em Iraquara, a cidade das grutas, bem ao norte da Chapada. Antes de seguir, demos uma volta por Lençóis e tomamos sorvetes típicos (graviola, mangaba, cajá, acerola). Fomos embora em direção à Iraquara.
Iraquara: cidade pequena e não conservada no estilo colonial como todas as outras que passamos. Tínhamos ligado para a pousada das Grutas, porém não gostamos quando vimos sua fachada – ela realmente parecia uma gruta com janelas pequeníssimas e retangulares. Resolvemos nos hospedar na pousada Recanto do Major, situada na fazenda Pratinha – onde existe o rio Pratinha, a gruta da Pratinha e a Gruta Azul. Passamos no caminho por um povoadinho de Santa Rita, muito bonitinho. Nos hospedamos. Mari e Ana viram uns 15 macaquinhos na árvores e uns pássaros laranjas e amarelos muito bonitos.
Noite do terror: o quarto da pousada Recanto do Major era esquisito, com as camas apertadas de costas para a janela. O banheiro estava sujo, com estalactites na parede do banheiro. Os edredons cheirando fortemente à naftalina – depois encontramos a bendita lá no armário. O lugar era longe de tudo e dependíamos da infra-estrutura da pousada, coisa que não existia. O lanche era ruim e caro. O café da manhã era horrível, eleito o pior café da manhã da Chapada. A pousada foi a mais cara e a pior de toda a viagem. Resolvemos sair na manhã seguinte, aproveitando apenas estar dentro da fazenda Pratinha e ver o que havia lá dentro. Junior ao encontrar o dono, que lhe deu bom dia, ele respondeu “péssimo.” Depois, meteu a boca em tudo de ruim da pousada.
Pratinha: o dia amanheceu nublado, por isso não aproveitamos tanto. Mesmo assim, a gruta da pratinha é linda, sua água é azulada e tem muitos peixinhos. O rio também é muito bonito, ótimo para banho, tem tirolesa (paga). O que estraga são as cadeiras de plástico na beira do rio junto do bar – nada a ver com o lugar. O mais divertido são os patos, que descobrimos ser criaturas engraçadíssimas – o líder ficava com uma pata no chão e outra levantada, depois alguns foram dormir com a cabeça virada para trás e três ficaram de vigília, ás vezes, eles grunhiam para o céu, pouco a pouco os vigias foram dormindo, um deles dormiu de pé, com a cabeça virada para trás, e o líder, resistindo, dava umas pescadas de sono.
Pensando no que fazer, resolvemos ir para a gruta da Torrinha. Havia também Lapa Doce, porém o guia da Chapada glorificava a Torrinha – e com razão.
Gruta da Torrinha: o acesso é perto, sinalizado e não tão ruim, apesar de ser estrada de terra. Lá o dono, Eduardo, explica o passeio e seus 3 roteiros. O roteiro 1 estava impedido, por isso fizemos o roteiro completo (2 e 3). O preço foi 18 reais/pessoa. Recebemos capacete (casquete) e pegamos nossas lanternas. Nosso guia era o Tiago. E adentramos pela Minas Tirith de Gimli. Fizemos uma exploração de 2 horas e meia (4 km, 2 de ida, 2 de volta) conhecendo as formações mais interessantes. Antes, corria um lençol freático pela gruta. Além das foramções normais de grutas, como estalactites e estalagmites, existiam outras, como:
Elictite – como estalactite, porém desafia a lei da gravidade porque se forma para todos os lados.

Flores de aragonite – uma das mais impressionantes, por causa da forte pressão, formam-se flores de cálcario.

Agulhas de gipsita – nascem do solo, são agulhinhas que parecem ser de cristais, bem finas e pequenas, aos montes (não tem explicação para sua formação).
Bolha de calcário com flor de aragonite – bolha estourada que dentro forma-se a flor.

Vulcões de argila – a água da chuva carrega, além de calcário, materiais grossos como terra e areia, que caíram num extinto lago formando pequenos vulcões.

Flor de aragonite numa electite – formação única no mundo, que não tem explicação.

Estalactites em forma de dente, gasparzinho e enormes colunas.

É considerada a caverna mais completa do Brasil, e vale um passeio.
Saímos umas 14h da tarde, todos sujos. Procurando comida e banho (sem pagar para isso), paramos num balneário do Rio Mucugezinho entre o Pai Inácio e Lençóis. Era um poço, com água muito gostosa e até com uma quedinha massagista. Depois do bom banho, comemos no restaurante de cima um PF de 10 reais bem servido. Seguimos viagem, nos despedindo da Chapada nesta viagem.
lago da pratinha


peixes na gruta da pratinha

gruta da pratinha
Junior na entrada da Torrinha
estalactites e estalagmites
estalactites de calcário, branquinhas

observando a estalactite-peruca

depois de 1 minuto em escuridão total

na passagem da francesa, pouco sujas

Conclusão da Chapada: lugar maravilhoso e único, que toda pessoa deveria conhecer. Porém, para quem não gosta de agitação e não tem muito dinheiro, deve-se evitar a alta temporada e no final de junho (por causa do feriado baiano de São João, que atrapalhou muito nossa viagem). As belezas naturais são cobradas com preços elevados, por serem dentro de propriedades particulares que são autorizadas pelo Ibama. Já outras, como o Buracão e a Fumaça, apesar de não ser caro, é necessário contratar um guia – que nunca é muito barato (diária média de 75 a 100 reais). É preciso saber conversar e pechinchar os preços. Voltaremos mais preparados para a travessia do Vale do Pati e outros lugares como a cachoeira da Fumaça, Fumacinha, Lapa Doce, cidades Igatu e Vale do Capão.

Décimo Primeiro Dia de Viagem

Acordamos às 5 da manhã, preparados para os 3 dias de caminhada no Vale do Pati, pelo despertador Alvorada, vulgo foguetório de São João. Esta á uma tradição da cidade de Mucugê que, durante o mês de junho nas festas de Santo Antonio e São João, ocorre a tal Alvorada, que é o despertar por bombas e foguetes às 5:00 da manhã para a saída da filarmônica que percorre a cidade, convidando o povo todo para um café-da-manhã típico na Igreja Matriz. Não participamos nenhum dia, por preguiça de levantar da cama. Bem, Junior foi o primeiro a sair do quarto e se deparou com um tempo feíssimo, chovendo, fechado. Ana e Junior – Mari ainda estava na cama – decidiram que não iríamos mais no Vale do Pati pois caminhada no mato com chuva não é lazer, é exercício militar (coisas de Lívia). Ainda tinha outro fator que se coloca contra nossa ida, já falado, era falta de hospedagem por causa das festas de São João. Descobrimos que quarta-feira, dia 23 de junho, é feriado na Bahia, prologando-se, em alguns lugares, até quinta e sexta – um carnaval junino. Desempolgados, resolvemos fazer outro passeio: o Buracão.
Buracão: cachoeira de 70 metros localizada perto do município de Ibicoara, no sul da Chapada. Fomos para Ibicoara, já que é quase impossível ir sem guia pela primeira vez, pois não tem sinalização nenhuma no caminho para o Buracão. Passamos na Associação de Guias Bicho do Mato, contratamos uma guia por 75 reais: a Oze, que se chama Oziene, e que Ana a chamou o dia inteiro de Zô. Lá fomos nós quatro para a cachoeira. Uma hora em estrada de chão ruim de carro, pagando 3 reais por pessoa. Lá dentro, são 3 km de ida, e 3 de volta. As trilhas, no início são de nível fácil, mas depois ficam difíceis. Temos que descer e subir pedras e ultrapassar obstáculos. Passamos pelo Rio Espalhado, que acompanha quase todo o caminho, pela cachoeira Orquídea da Serra – que se diz o melhor banho da região, pela cachoeira Recanto Verde – que não pode tomar banho, em vista à preservação. Finalmente chegamos em um cânion, a partir temos duas opções de caminho: pela água ou escalando as paredes de pedra. Optamos pela água. Podíamos pular – 4 metros - ou descer pela quedinha d'água. Junior logo deu um mergulho de Tarzan, achando-se estiloso. Quando caiu na água, ficou pálido de frio. Ana ficou se decidindo, com medo de pular. Acabou desistindo, mas Mari incentivada por Junior, pulou e gritou. Ana, que não queria ser a única a não pular, acabou se rendendo. A água é muito gelada e tem cor de coca-cola. A guia nos jogou os coletes salva-vidas, e seguimos pelo corredor de água com paredes imensas de pedra sedimentada. Chegamos, enfim, ao cenário Senhor dos Anéis que queríamos ver. Entendendo o nome Buracão, a cachoeira fica em um buraco enorme cercado de paredões enormes de pedras por todos os lados. A cachoeira, apesar de não estar em sua melhor forma pelo período da estiagem, é linda, maravilhosa, inigualável. Fomos até debaixo dela, onde recebemos um super jato de água constante. Até que Mari e Ana sentiram-se afogadas pela constância da água muito forte na cara e todos resolveram pular. Junior pulou primeiro, Mari pulou desengonçadamente, porque escorregou da pedra na hora de pular e Ana ficou apavorada. Oze ensinou à ela como se pula certo: na pontinha da pedra, com os dedos dobrados. Todos em água, fomos abraçados e batendo os pés, pensando sobre Senhor dos Anéis (Junior Boromir que se diz Aragorn, Mamãe que se diz Arwen - que não é aventureira fica só meditando entre as árvores - Mari hobbit – apesar dela não concordar pelos pés peludos - e Oze guia Smeagol.) Tomamos sol nas pedras, aproveitando o cenário e depois voltamos pelo caminho das paredes de pedras. Lá chegando, fizemos a nossa refeição. Ana comeu as lembas (como apelidamos as famosas bolachas de arroz isopor Name) e ofereceu à Oze, que até gostou – ou estava sendo educada. Voltamos. Mas a volta não ocorreu sem emoções... Ana, que estava com seu tênis de corrida urbana, não com sua bota trekking aventureira presentada por Junior e de mochila, caiu e torceu o pé direito. Foi um Deus-nos-acuda. Oze fez uma massagem e imobilizou o pé de Ana com ataduras. Sem antes Junior dizer: a viagem acabou aqui. Não acabou. Continuamos com Ana, que não se deixa abater, porém meio manca. Chegamos até o carro, vimos o banheiro seco, e Mari até bateu a cabeça no trinco. Banheiro seco: tecnologia ecologicamente correta sem desperdício de água em que a descarga é uma concha de serragem e uma de cal para virar adubo depois. Na volta, paramos em um mirante para ver o Campo Redondo. Neste lugar, segundo Oze, moram ufólogos que estudam os ets naquela região. Oze diz que nunca viu nada, mas que o povo diz ver. Nós vimos os círculos no solo – em que não cresce outra vegetação – no caminho de Ibicoara para Mucugê. Para subir no mirante, Junior empurrou Mari para subir na pedra, e esta bateu o joelho, ralando-o. Machucados e cansados, voltamos para Mucugê.
Mucugê noite: comemos uma pizza na Mama, que é ucraniana, e faz uma pizza deliciosa – fininha e crocante. Ana e Junior foram ao hospital de Mucugê, demoraram para o encontrar numa cidade de 4 mil habitantes. Fomos recebidos pelo Dr. Marcelo que examinou o pé de Ana e prescreveu uma injeção anti-inflamatória extremamente doída. Ana saiu reclamando de muita dor com o pé inchado. Fomos para a pousada, descansar para seguir viagem no dia seguinte em direção ao norte da Chapada.

oze, mãe e jr na trilha

querendo voar no rio espalhado


rio espalhado


Boromir

cachoeira do Buracão


Ana pulando



buracão visto de cima



Décimo Dia de Viagem

Acordamos e tomamos um super café-da-manhã na pousada Recanto da Chapada. Logo Tony foi nos ensinar como chegar no Poço Azul, um dos filés dessa região da Chapada. Pegamos o carro e seguimos na direção nordeste, nos orientando pelo mapa de Roberto, pelo GPS e pelas pessoas, que estavam geralmente tocando gado. Paramos antes do rio Paraguaçu, que nesta época do ano fica bem seco, dando para atravessá-lo a pé. Mais a frente, achamos a guarita e pagamos a taxa de 10 reias por pessoa. Apesar de salgada, descobrimos como vale a pena. Lá dentro, deve-se tomar uma ducha antes. Seguimos com um guia descendo para dentro da gruta, num caminho não tão fácil, mas bem facilitado.
Poço Azul: chegamos por volta de 10 da manhã. O lugar é inenarrável... lindo, indescritível! É uma gruta com corpo hídrico (um lago, esta linguagem vem do Junior) que tem uma vazão de 9 m³/s, porém muito parada, formando um espelho perfeito. Há uma entrada de luz em cima da gruta que tem a forma da Bahia ou do Brasil sem o Rio Grande do Sul. Agora, o melhor é quando, por cerca de 12:30 – somente no período de abril a setembro – bate um raio de luz e forma-se um feixe de luz azul impressionante. Nesta hora, o melhor é ninguém estar nadando, para que a água fique precisamente parada, desenhando formas no fundo. Após as fotos, pode-se flutuar com colete salva-vidas, máscara de mergulho e snoker – tudo fornecido pelo guia local, sem custo adicional. A profundidade é de 24 metros com total visibilidade do fundo, onde há formações rochosas e troncos caídos. É... maravilhoso. Nesse momento, estávamos nós e três colombianos. O guia local que estava lá, Juracir 20 e poucos anos, é muito competente, atencioso e gozador. Apelidou Junior de “o homem que não boiava”, o chamava de Doutor e corinthiano (por ele ter achado que era paulista). Chamava de Ana “a mulher que boiava demais”, porque era levada com facilidade de água, ele não conseguia tirar foto dela. Só Mari que era a “garotinha” estável, aliás, ele perguntou se ela sabia nadar, achando que ela era uma criança.
Foi ótimo.
Vimos o jogo do Brasil em Mucugê, o primeiro tempo almoçando numa churrascaria e o segundo tempo na Pousada. Que foi muito animado, menos para Junior que dormiu. No primeiro jogo, ele também dormiu e roncou lá em Januária – e todo mundo gritou GOL! sem ter gol para acordá-lo no susto.
De noite, conversamos com o guia Antonio, empolgados em fazer a travessia do Vale do Pati de Guiné a Andaraí. Diz ser esta a Santiago tupiniquim, com 3 dias de caminhada, passando por cenários tipo Senhor dos Anéis, a 6 horas de qualquer civilização – apenas tem os pontos de apoio, em casas da comunidade, que dão cama e comida típica. O único problema era aonde ficaríamos no retorno da caminhada, já que Mucugê estaria toda lotada a partir do dia 23 para a Festa de São João.
Comemos pizza na Pizzaria da Garagem, cujo os donos são jovens italianos - e a pizza é ótima. Voltamos para a pousada, arrumamos as mochilas e equipamentos e dormimos.
esta foto é o máximo: vire-a ao contrário no seu computador e... tcharam... igualzinho!
brésil?
:]
junior: o homem que não sabe boiar
Mari: o equilíbrio! haha
 Ana: a mulher que boia facilmente
era pra ser uma estrela...
12:30
cachoeira de luz
na luz azul